A barragem de Balbina, como muitas outras, aproveitou uma queda d’água natural, em cima de uma cachoeira.
Cachoeiras, sabemos, são divisores naturais de espécies de peixes. Uma espécie que ficou dividida geograficamente, após cruzamentos sucessivos por muitos e muitos anos, acabou por se diferenciar em duas. Essa é a teoria mais aceita.
Por isso que, no Uatumã, temos um peixe acima e outro abaixo. No processo de construção da barragem, podem ter ficado presos alguns açus que, por motivos desconhecidos, não vingaram.
Suponho que os açus, por serem maiores, foram mais perseguidos por caçadores sub, zagaieiros e pescadores. Também já aprendemos que, nas barragens, desaparecem os incentivos para que os peixes de diferentes espécies de tucunarés não se misturem (nos rios, as desovas e até a caça se dão em diferentes zonas). Por isso que há tantos híbridos em barragens e quase não existem na natureza. Além disso, introduções em pequena quantidade em
barragens também têm se mostrado como a principal forma de hibridizar parte de uma população de tucunarés: eles acabam crescendo, não se encontram mais e acabam cruzando com a espécie que já existia antes, em maior quantidade, já espalhada no lago. Penso eu, numa viagem mirabolante (essa é a parte que os donos da verdade sabe-tudo vão colar pra postar no Midiáticos), que alguns açus podem ter ficado presos no enchimento do lago e cruzado com o Tucunaré de cima, dando origem a alguns híbridos que, com o tempo, deixaram de existir porque não são férteis. Já vi fotos desses peixes, infelizmente não as tenho. Mas essa hipótese é pura imaginação fantasiosa da minha parte. Já soube de coisas estranhas acontecendo na região de Belo Monte, não necessariamente no mesmo sentido. Só o tempo dirá.
Eu não sou acadêmico, mas acredito que o estudo das espécies deve(ria) nos servir de forma prática. Não consigo estabelecer uma relação entre o Peixe de Balbina e o Vazzoleri do sistema Nhamundá-baixo Trombetas. São totalmente diferentes fisicamente e separados geograficamente por uma população de Cichla temensis - esse, para mim, já poderia ter suas sub-espécies estabelecidas também, porque nitidamente há várias. Já o Tucunaré de Balbina, por ser endêmico, para mim deveria ser revisto como nova espécie, já sugiro até o nome: Cichla balbinae. Seria legal que aquela região tivesse, inclusive, a possibilidade de aninhar seus próprios recordes mundiais, reconhecendo assim a importância desse lago.
Torço para que venham estudos que segmentem o máximo possível e nos permitam estudar cada população de Tucunaré de forma específica, para colaborar com o crescimento da pesca esportiva.