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Olá, amigos! Gostaria que todos estivessem na minha sala, tomando umas cervejas bem geladas, com todas as fotos (foram milhares) rolando na TV enquanto eu conto cada história desta incrível aventura. Mas é para isso que serve a tecnologia e nosso querido FTB, então posso passar um pequeno resumo do que é pescar praticamente um mês no paraíso dos tucunarés. E, para pescar tanto tempo, abdiquei do conforto dos barcos-hotéis, passei meus dias nessa estrutura 5 estrelas. Ou melhor, milhões de estrelas, já que, da tolda do barco, eu podia observar todas no céu enquanto dava notícias em casa pelo telefone satelital. Meu foco não é somente arrancar os peixes da água e sim aprender o máximo possível sobre aquele lugar e vivenciar tudo que eu puder da região. Não à toa estou me mudando para lá. Também não me interessam somente os gigantes, quero pegar de tudo e de todo tamanho, apenas não me dediquei ainda aos peixes de couro. E vi muita coisa inusitada. Teve jacaré-açu com piercing de anzol de galho, que infelizmente não tivemos como ajudar. Vejam: À noite, fomos focar peixes ornamentais nas galhadas. Queríamos ver o acará-disco e outros tantos que já criei no aquário. Claro que queria ver uns açus também, encontrei alguns mas nenhum gigante. Vi de tudo, dezenas de espécies de acarás, cascudos e outros peixes ornamentais, até o raríssimo peixe-folha, mas nada do disco. Teve atropelamento e... OPA! Agora, sim, a isca de hélice vai ser a mais produtiva de todos os tempos, acho que descobri o segredo. Teve isca produtiva até demais, monstro pegou na borda do bote e... Mais piercing. Vai fazer companhia pro jacaré. Teve assado. Toda noite, a "broca", como eles chamam a comida por lá, era feita com maestria pelo piloteiro. Teve mais, muito mais. Mas vamos começar a falar de tucunaré. Rio Negro até a tampa de água (21 de setembro, região de Moura, abaixo do rio Branco), achamos pontos com muito paca na baía do Jufaris, cheguei a pegar 123 peixes num único dia. Sim, eu pesco sozinho e o piloteiro comigo não pode dar um arremesso sequer. Entramos um pouco no Jufaris até pertinho da primeira comunidade, mas não gostamos da cara do rio até ali e também não queríamos nem a possibilidade de arrumar problemas logo no começo da viagem. Os pedrais também me decepcionaram, muito esforço para nada, achei horrível esse tipo de estrutura. Já tinha perdido 2 bitelos no Negro e a ansiedade começava a tomar conta, 6 dias rodando e nada de peixe grande. Se fosse pescaria de 1 semana, já eraaaa. Primeiro dia no Caurés, entramos num paranã, cardume de peixes de 3 kg, começou a diversão. Primeira curva, galhada. Tic tac BUM! Muito rápido, nem fisguei e já tinha enrolado tudo. Garatéia não aguentou. Terceiro grande perdido. Segue... Outra curva, muito jacare-café (vegetação), gosto demais, arremessos paralelos, trabalho forte de zara, rebojou, rebojou, rebojou, na borda do bote POWWWWW, e láaaaa vaaaaiiii o bicho por baixo do bote, raspando a vara na beirada, quase quebra tudo e só parou quando meteu a cara no barranco do outro lado. Mas veio pras fotos, pena que a única que prestou eu tava conferindo a posição do Sol. surtei:: Segue mais uma curva, paramos pra olhar as estruturas e meu coração gelou. Há uns 3 metros de mim, um casal de gigantes. Só soltei um pouco de linha e travei a carretilha, nem precisei arremessar. Joguei a isca na cara dos bichos e dei um toque, a fêmea meteu a cara, me estiquei pra folgar a linha, a isca soltou, mas nem flutuou e o grande abocanhou, veio na minha direção e parou. Eu queria que ele desse as costas pra eu fisgar, mas nada... Cuspiu a isca com a linha toda emaranhada nas duas garatéias, tipo quando a gente prende com aquelas borrachinhas... Droga, outro grande perdido. E vamos pra frente... Outra curva, a última do paranã, uma galhada enorme. Falei pro piloteiro: Olha só! Arremessei e tic tac tic tac tic tac tic tac tic tac tic tac tic tac tic tac tic tac tic tac tic tac tic tac feito uma bomba relógio, achei que não ia pegar, mas o bicho subiu já bem pra fora galhada e BUUUMMMMM, aquela implosão de som oco, e correu pro meio, esse queria tirar foto mesmo. O maior da pescaria. De cada peixe só salvava uma foto, teve peixe no meio da pescaria que nem uma. Foto de piloteiro é fogo! :gorfei: Mas no final vocês vão ver que eu ensinei direito. Bom, a partir daí a pescaria engrenou e todos os dias peguei peixes grandes enquanto estive no Caurés. Estava apertado por um barco-hotel e um flutuante, então os pontos estavam mais que batidos, surrados! Peguei vários peixes com a boca rasgada e cicatrizada ou cicatrizando (ainda inflamada, ferida aberta), prova de que foram capturados antes, atestando, mais uma vez, a eficiência do pesque-e-solte. O próximo peixe tomou a hélice de um paca durante a briga, esse tinha um rasgo enorme no canto da boca já completamente cicatrizado. Teve outro dia em que peguei 4 grandes, mas o primeiro do dia, logo cedo, não teve foto boa, seguem os outros 3. No dia seguinte, lembrei de estrear a camisa do Cabras da Pesca. Este dia foi o melhor da pescaria em média de peso, uns 30 na faixa de 4-5 kg com 87 peixes no total, num paranã que terminava num grande lago. Ao adentrar o lago, na primeira galhada, clichê. Tic tac tic tac POWWW e forcei muito pra não enroscar, quando correu pro meio eu folguei tudo. Mais do que certo. O peixe grande do dia veio num fiapinho inacreditável de tão fino. Mas veio. E entrei na agua pra fazer a foto. Depois fiquei mais um tempão na água me limpando do cauixi... Ô coceira desgraçada! :gorfei: Depois desse dia, começaram a chegar muitas nuvens que não cumpriram seu dever e o rio continuava baixando 20 cm por dia. Lamentável! Aquele lago cheio de ação num dia era deserto no dia seguinte. Foi aí que o igapó acabou definitivamente e os açus sumiram, deram lugar a enormes pacas na transição para açu com o ventre manchado, coloração que os locais chamam de sarabiano, consegui separar a foto de um aqui. Foram 4 em 4 dias, entre cerca de 40 peixes por dia, muitos na faixa de 5 kg, ou seja, brincadeira muito boa já. Depois da sequência de sarabianos, o Caurés já estava um fio de água. A todo momento o barco de 50 cm de calado topava na areia do fundo do rio e descíamos mais rápido com medo de ficarmos presos. Logo nos deparamos com muita concorrência e aceleramos em direção à baía do Caurés para fugir do congestionamento. Dormimos já perto da baía, região onde abundantes incêndios na mata devido ao forte calor e queimadas das plantações dos ribeirinhos das comunidades nos fizeram mudar de local 3 vezes durante a noite para escapar da fumaça. Acordamos com o barulho de um pequeno barco gelador subindo o afluente. Que raiva! Mas antes que pudéssemos praguejar, mais 2 barcos geladores. O sangue esquentou rápido, mas o que fazer? Pescar, aproveitar enquanto pode, furar a boca do peixe que eles vão matar mais tarde. De cabeça quente, entrei num lago e uma série de galhadas deitadas na margem fazia um cenário perfeito. Falei pro piloteiro: Olha só! Primeiro arremesso, tic tac POW. Quase merecia foto. Segunda galhada, tic tac tic tac POW. Quase foto. Terceira e quarta galhadas e tudo de novo, peixes lindos, com cupins enormes, eu apreciava suas belezas e suas cores, já triste pelo breve fim que provavelmente tiveram. Mas ainda não eram grandões pra tirar foto. Então se fez uma calmaria terrível, um silêncio estarrecedor que parecia que a isca estava dentro de minha cabeça e eu trabalhando com muita raiva e muita força. Umas 15 galhadas depois, percebi que o trabalho estava agressivo demais e joguei por cima do tronco caído. Tic.......tac......tic......tac...... A isca passou por cima do tronco que estava a uns 10 cm da superfície e surfou numa onda enorme (um rebojo), enquanto eu tentava entender, o peixe já passava a mil por hora com as costas de fora por cima do tronco (aí eu percebi que ele estava pra cá do tronco, passou por baixo procurando a isca que foi arremessada um metro pra lá do tronco e quando ele achou, teve que perseguí-la por cima) e uma imensa caverna se abriu atrás da isca, fez um som grave tão forte e alto que eu pensei que o peixe tinha abocanhado minha cabeça. No mesmo movimento, virou todo o corpo de lado pra mim na vertical e como uma turbina explodiu na direção do centro da Terra, fazendo um canhão de água de uns 4 metros de altura. E olha, foi muito, mas muito mais do que você está imaginando ao ler isso. Eu nunca tinha sentido medo no ataque de um peixe, mas foi essa a sensação, um enorme medo do que estava na ponta da linha, tamanha foi a sua violência. O peixe arrancava linha da carretilha, mas era como se estivesse tirando meu sangue. Passou por uns galhos finos e depois numa raiz, eu ia descosturando e ele fazendo uma teia, até que boiou atrás de mim. Nem quis entender como ele fez isso e passei o boga nele. A isca está na lateral, mas... Por dentro! O peixe pegou com tanta vontade que a isca passou direto por suas guelras e fisgou o peixe por fora, a garatéia dianteira na borda do opérculo e a outra no couro mesmo. Cortei logo o líder rente à boca, puxei a linha da galhada e tirei a isca do bicho. Nunca vi nada parecido nem em vídeo, estremeço até hoje cada vez que lembro do ataque mais lindo de minha vida, são 13 anos pescando várias espécies de tucunarés, 15 semanas de açus no rio Negro e afluentes (desde a primeira vez em 2012), e a cena mais impressionante, a fração de segundo mais incrível que já tive em minhas pescarias foi deste peixe lindo, coloridão, dorso azul como eu nunca vi. Não foi o maior da pescaria e nem de longe um dos maiores que já peguei, mas o que ele fez eu jamais esquecerei. POoOoOoOoWwWwWwWw! A emoção foi tanta que nem liguei para o resto do dia quase sem peixes, nem os outros 2 geladores que subiram no mesmo dia, nem que no dia seguinte eu perdi um muito maior que este já com o líder na mão e que seria o único grande do dia e vi subir outro gelador (se você não contou, é o sexto gelador em 2 dias). Dormimos na baía do Caurés, planejando a segunda metade da pescaria. Acordamos e tentamos ligar o barco. Não pegou. Foram 2 dias viajando lentamente, descendo devagar rebocando com o motor de 15 hp, pescando "o de comer" até chegar onde mora o "especialista", que levou mais um dia pra resolver. Barco funcionando legal, vamos subir o Jauaperi. Só esquecemos de perguntar ao rio se ele tinha água... Primeiro dia e varamos um lago. Muito peixe, sequência de 3 grandes. OPA! Dá-lhe Jauaperi! Com direito ao terceiro em um exótico padrão brasa. Ah, e reparem que o piloteiro aprendeu, hein!!! Luz (já girava o bote assim que eu bogava os peixes), enquadramento, tudo melhorou. Bacana que quando fui soltar este peixe, ele me deu um banho daqueles! Enquanto o piloteiro reposicionava o bote, eu falei,: lá, rente ao toco grande. Resultado: E mais este peixe ímpar, laguinho muito bom! No dia seguinte, avançamos no Jauaperi, encontramos 2 barcos-hotéis bem grandes e um gelador. Nada de peixe grande. E nada de água. Mas já? Pois é. Rapidinho topamos na terra e a história do Caurés se repetiu. Botes, geladores toda hora, rio seco... Subimos só com a voadeira, entramos num lago por um canalzinho que ficou. Dentro dele, 25 tucunarés, todos na hélice, todos na faixa de 3-4 kg, fenomenal. Um grande entrou na meia-água rente aos meus pés, mas tomou muita linha e escapou logo em seguida. Na saída do lago, não tinha nem canalzinho mais, só a areia molhada. Meia hora de muito esforço para conseguir sair dali. Novamente descemos rápido, para voltar ao lago de antes. O varadouro para o lago, que 5 dias antes tinha quase 1 metro de água, agora estava fora d'água mais de meio metro. Isso mesmo. Incrível. No barranco, um barco gelador de conhecidos do piloteiro estava sendo abastecido com peixes do lago. Conversamos bastante, para onde vai aquele peixe, quem compra etc. Tinham chegado no dia anterior e nós varamos por terra para pescar na canoa oferecida por eles, que já estava no interior do lago, então vamos furar a boca dos peixes que eles vão matar mais tarde, pelo menos "fizemos amizade" e descobrimos algumas coisas. Logo de cara um aruanã boiando, passo a isca na cara e pego o peixe. Outros tantos escaparam, mas um tá aqui. Peguei mais meia dúzia de tucunarés, um quase de foto, tava muito lindo cupim gigante... A última vez que ele me proporcionaria emoção, provavelmente. Não aguentei muito tempo aquele clima, resolvi sair. No leito do rio, ausência de pontos de pesca, um fio de água correndo. Entramos num lindo igarapé de águas azuis, também muito seco, mas com incrível quantidade. Seriam os últimos bons momentos, faltando ainda 5 dias pra acabar. Este igarapé azul termina numa espécie de lago enorme antes de se juntar ao Jauaperi, com muitas galhadas e tocos no meio. Depois de dezenas de popocas na margem, pedi para aproximar de uns tocos enormes no meio do lago. Estava bem raso e água bem cristalina, dava pra ver alguns casais. Peguei muitos peixes de quase foto junto aos troncos, manhosíssimos, tinha chovido muito na noite anterior com direito a trovoadas. Mas com persistência e muito trabalho saiu o último troféu da pescaria. Outro que veio pelo fio do bigode, uma forçadinha de nada e já era, foram muitos assim. Próximo à foz do Jauaperi, só pedrais e água mais branca, influência do rio Branco. Nem preciso dizer que foram os piores dias da pescaria, claro que o fato de estar acabando também já deixa a cabeça ruim, se não pega peixe piora muito. Para terminar, peixe digno de fim de carreira. A fula. Os detalhes da pescaria. Rios: Negro e as partes baixas do Caurés, Jufaris e Jauaperi – estavam tão secos que não pude subir nenhum afluente. Nada de cabeceiras. No começo da pescaria, o Negro não tinha pontos de pesca, tudo no fundo. No fim, não tinha nem água mais. Aquele “nível ideal” passou super rápido, enquanto eu estava no Caurés, disputando pontos com um flutuante e um pequeno barco-hotel. Não fui até a cidade de Barcelos. Havia a possibilidade de ter que voltar a Manaus imediatamente, por isso entrei e saí por Novo Airão. Isso também apontou minhas opções para afluentes mais pra baixo e minimizando as chances de peixes gigantes, recordes mundias e qualquer coisa dessa natureza. A equipe foi um piloteiro e o dono do barquinho de 10 metros. Sauna 24h, emagreci bastante, recomendo. Nada de cama, chuveiro, arzinho... Zaras e hélices 99% do tempo. Mais hélice no Negro, mais zara nos afluentes. Pela primeira vez eu tive uma pescaria extremamente produtiva nas hélices, acredito que 30% dos peixes foram nelas, mas apenas 2 grandes, o restante foi na zara mesmo. Todos os dias eu anotei a quantidade de tucunarés. Na calculadora, foram exatos 750 (olhei e falei: ah, conta de mentiroso da por...), fora os peixes de outras espécies que não contabilizei. E olha, teve muuuiiitttoooo mais coisas, só que não dá pra relatar tudo aqui. Vamos na próxima que você vai entender. Abraços em todos e boas pescarias!