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  1. Após ter preparado (na verdade transcrito) a nossa 1ª pescaria e visto que o relato agradou a alguns amigos mais "generosos", aproveitando esse momento que antecede o inicio das comilanças natalinas, vou iniciar a transcrição da 2ª pescaria, ocorrida no ano seguinte, e já com um pouco mais de vivência e experiência nos "erros & acertos". Data Base : Setembro 1990 - Rio Curuá-Una - Turma nº 2 - Mocorongos Caros irmãos, Estávamos em plena temporada de pesca no Tapajós ! Contrariamente ao ano anterior, quando por lá estivemos, desta vez havia peixe, e não era por ouvir dizer, e sim por ter presenciado e pego por mim mesmo. Duas ou três semanas antes, havia estado em Santarém, convidado que fui pelo Franklin (gerente geral do Hilton Belém), para uma pescaria a bordo de uma EMBARCAÇÃO REGIONAL, onde inclusive dormimos em redes nas duas noites que passamos por lá ! Foram 2 1/2 dias de muita ação (inclusive de "caça a marreca" - feita por dois dos outros embarcados - éramos no total 5 pessoas), passando por Alter do Chão, Ilha do Meio, e por todos aqueles pontos por onde estivemos juntos, e desta feita vendo os peixes beliscarem ! O período ainda não era o considerado como "ideal", mas já dava para ter muitas emoções ! Devemos ter pego uns 50 peixes no total (quase todos tucunarés amarelo-esverdeados), com tamanhos variados, mas apenas uns dois acima dos 3 quilos ! Os demais na faixa de até 1 1/2 quilos. Desta experiência pude presenciar uma série de pequenos "defeitos" que consertados nos possibilitaram ter grandes momentos ! Aliás, em cima deles é que me fixei para aumentar a possibilidade de êxito na nossa incursão ! O esquema usado pelo Franklin, e que iríamos repetir - ficou tudo mais ou menos esquematizado nesse sentido - nos possibilitaria muita flexibilidade durante o período, pois já era pensamento (desde então) sairmos das imediações da cidade, face ao possível / provável número de outros pescadores que certamente estariam nos arredores (além da proximidade do próprio torneio internacional, que provoca um verdadeiro "arrastão" nas proximidades onde é disputado - quase sempre em Alter do Chão, pela infra estrutura necessária - com os pescadores hospedados no Hotel Tropical de Santarém). Novidades na chegada, pois desta feita Cecil trazia a esposa para alguns dias em Belém / Manaus, enquanto estivéssemos pescando. Na verdade, juntando a necessidade de "desbravar" o mercado do norte, a viagem (PJ) de Cecil tinha como objetivo uma série de visitas tanto em Belém quanto na cidade de Manaus, quando um encontro com o representante comercial era um dos seus objetivos perseguidos ! Por esse motivo, aproveitamos para "encaixar" Santarém no processo, Para Christiana (minha esposa), a visita foi ótima, pois ela teria uma companhia no período em que estaríamos fora pescando, além - é claro - de conviver um pouco com a irmã. Pois é, dois irmãos casados com duas irmãs, que já eram nossas primas - típica "falta de ideia"... As tralhas desta feita foram MELHORADAS ! Depois de minha "experiência" com Franklin, pude, em Manaus - onde ia a cada 15 dias por "ossos do ofício" - e complementar um pouco o escasso equipamento dos três ! Consegui encontrar novas colheres, e até mesmo alguns peixinhos (RAPALAS) foram comprados, além de uma vara telescópica de 3 metros (que prometia ser a "sensação"). Fora disso, o apelo ao nosso bom Bill (do Banco), que apesar do apego, emprestou-nos um quase "kit de sobrevivência" em termos de equipamento, o que se revelou fundamental nos dias que se seguiram ! Algumas dessas "tralhas" vieram por Cecil, diretamente de Salvador, enquanto que outras já vinha trazendo nos meus retornos mensais das reuniões de diretoria na matriz (Salvador). Mas justiça seja feita, graças a algumas de suas insistências, pudemos realizar a pescaria que intencionávamos ! Nesse aspecto inclusive, em cima de suas recomendações é que as providências de equipamentos adequados foram realizadas, e se mostraram mais que adequadas ! Foram varas, molinetes, linhas, aço, giradores, (curiosamente não existiram "iscas") e uma série de "dicas" de como proceder em determinadas situações, nos permitiram superar nossa inexperiência relacionada ao assinto (engana-se aquele que pensa que para pescar é preciso apenas dar um jeito de "puxar a isca", pois "o resto" é o peixe que faz !). Fica portanto, dese já nosso RECONHECIMENTO e agradecimento ao Bill pela ajuda dada. Armando também chegou de véspera, e pudemos inclusive aproveitar sua estada para fazermos (os três) juntos em Belém, algumas "pequenas farras" (resumidas a uma ida a um pequeno bar próximo de casa que servia uma boa cerveja gelada com uns "tira gostos regionais"). Certamente que fizemos uma refeição no Hilton, até como forma da "Equipe" se conhecer, além de que serviu também para Cecil visitar alguns clientes (mesmo potenciais) e eu poder concluir alguns dos meus assuntos pendentes no Banco ( sabe Deus como - a cabeça na pescaria) com a sempre precisa e conveniente ajuda de meu amigo e assessor da diretoria - Marcos Fonseca, para então FINALMENTE me entregar ao "evento" ! É claro que a reunião de todos lá em casa foi festiva, e pudemos desfrutar da comidinha da nossa cozinheira baiana que nos acompanhou à Belém (escaldado de peixe Filhote - uma vergonha o tanto que foi comido). Lembrando também do proveito obtido pela colaboração do motorista ("Seu Zé Maria"), sempre paciente e disposto / disponível para as "missões" que lhe eram passadas ! Coube a ele, na verdade, circular com os hóspedes (o que já era uma tradição) pelos arredores da cidade, e nisso ele era inigualável (grande figura). Os preparativos de saída foram praticamente acertados pelo próprio Franklin, que junto com Fernando (gerente financeiro do hotel), que também estava indo, é quem tinham os contatos - considerados como "quentes" - pelo intercâmbio entre os hotéis das duas cidades. Participei tão somente do dimensionamento das bebidas e comidas, pois já havia sido acertado que chegaríamos em Santarém ao no entardecer, indo diretamente para o barco - que estaria a nossa espera - no ancoradouro da cidade ! A logística de "traslado" ficara sobre a minha responsabilidade, afinal nossa agência poderia contribuir com esse suporte desejado ! Infelizmente (por ironia do destino, e situações profissionais) os gerentes da praça já não eram os mesmos (os havia transferido para outras agências), e o atual (Edson) era recém contratado, mas nem por isso deixou de se mostrar diligente (uma vantagem a mais de ser "o diretor"), providenciando todas as recomendações previamente passadas - via TELEX na Agência. Por esse motivo é que já tinha uma idéia do que estaríamos encontrando na nossa chegada ! Não conseguimos alugar o mesmo barco utilizado pelo Franklin na pescaria anterior (já havia sido requisitado antes da nossa solicitação por outro grupo), mas o "arranjado" era tão bom quanto (pelo que pudemos vivenciar na prática). A ida das tralhas (isopores com comestíveis) para o aeroporto de "Val-de-Cãns" (Belém) foi feito de kombi, até como prova de que não era tão pequena assim ! No embarque, as ""facilidades" foram aproveitadas, pois o fim de semana longo (algum feriado - que não o sete de setembro) fizeram que o voo estivesse - como quase de hábito - superlotado ! Nisso, o esquema de "conhecimento" e da "mordomia" sempre foram usados ! Embarcamos pela sala VIP, que minimizava o processo, mas o voo (que era um "pinga pinga") já vinha bem cheio ! De qualquer forma, seria apenas aquela uma hora de voo, onde você chegava no mesmo horário que saía, pois a cidade tinha fuso horário de uma hora menos que Belém ("vantagem" na ida e "prejuízo" na volta). Pouco antes do embarque é que me entregaram as "camisetas" - que mandara confeccionar - para serem distribuídas aos integrantes do Grupo ! Foi a primeira tentativa de uma coisa mais estruturada que nos identificasse como "um time" ! O calor do meio da tarde (apesar do horário ser próximo das 17:00 h) era bem amazônico, e com as camisas coladas no corpo (ainda não as novas - que eram de meia Hering), fomos a luta ! Enquanto os preparativos do barco se ultimavam, fomos dar uma voltinha na cidade, desfrutar da vista (como já foi dito) e beber uma cervejinha gelada no bar "Mascotinho" (point da cidade), onde acabamos comendo tantos "tira gostos", que acabou virando jantar ! Voltamos para a embarcação quando esta já se encontrava em fase final para "levantar ferros" (o termo correto seria "soltando as cordas") e partir para nosso destino. Falando em "destino", alguns comentários sobre o local escolhido, pois também para mim seria uma novidade (Franklin já havia ido anteriormente, e foi quem nos direcionou para lá). Nosso destino seria o rio CURUÁ-UNA, afluente do Amazonas, ou seja, sairíamos do rio Tapajós, navegaríamos o Amazonas (no sentido da foz), entrando no "nosso pesqueiro" na margem direita do próprio rio Amazonas. Neste rio (CURUÁ-UNA - nome indígena, é claro). bem mais acima , situa-se a hidroelétrica de Curuá-una (não chegamos a conhecê-la face a distância que fica da foz), que abastece a energia da cidade de Santarém e outras das redondezas. O próprio rio é piscoso, mas nosso objetivo seriam os lagos existentes (eram diversos) na região, pois nesses locais é que mais se concentravam os tucunas, nossos principais alvos. O barco somente conseguiu sair (sempre faltava uma coisa) por volta das 22:00 h, com o céu estrelado e um ventinho mais que gostoso, que embalava a nossa conversa. O "capitão" era um antigo conhecedor do rio, de modo que tivemos um navegar tranquilo pela rota escolhida, alternando as margens de navegação em função dos bancos de areia que se formavam pelas "baixas" dos rios. Com a noite estrelada, muito pouco era visível (para nós), de modo que vez por outra, o "capitão" acendia um farol móvel (uma alavanca manual que o controlava) para iluminar as margens, ou algum ponto suspeito do rio. Nessa altura (depois de meia noite) já estávamos alojados nas respectivas redes, com as luzes apagadas, "murmurando" um resto de conversa que teimava em não se concluir (comandada pelo nosso sempre excitado Armando). Mas o sono foi mais forte e a conversa foi diminuindo, sendo abafada pelo barulho contínuo das águas no casco e pelo "ronco" do nosso bom Franklin. Nem vi a hora em que o barco parou, apoitando já nas margens do rio Curuá-Una ! Dentro do silêncio que nos circundava, o melhor a fazer era dormir, até porque o ventinho noturno era bem agradável. Mal começou a clarear, já ouvia as vozes dos meus dois irmãos pedindo pressa aos piloteiros ! Se dependesse disso, até sairíamos mais cedo, mas o esquema dessa turma é muito devagar ! Acordar com os demais, tomar café, colocar os botes na água, verificar os motores (um de 15 Hp e outro de 25 Hp), encher os tanques de combustível, enfim, vários pequenos detalhes que praticamente levaram ao desespero os já mais que ansiosos pescadores ! O esquema combinado era que iríamos logo dar uma geral nas lagoas próximas à foz, e depois do almoço subiríamos o rio propriamente dito. A divisão dos botes foi simples e permaneceu inalterada até o final da viagem, pois não havia nenhum sentido os irmãos ficarem separados ! No caso dos piloteiros, como nenhum deles era conhecido, tanto fazia quem ficaria com qual ! O importante é que eles conheciam a área, e assim sendo, com os anzóis (colheres) na água, fomos aos peixes ! Como aprenderíamos posteriormente, o início do dia não é o melhor período para o tucuna ! Eles na verdade passam a andar atrás de alimentação com o calor inicial da manhã, isto é, por volta das 08:30 / 09:00 h. Até esse horário só fizemos "dar banho" nas colheres ! A partir daí eles começaram a entrar ! Bem pequenos no começo, foram aumentando de tamanho até atingirem algo em torno de 1 à 1 1/2 quilos. embora mais importante do que os tamanhos, era que FINALMENTE estávamos tendo ações ! Ninguém em especial, mas todos nós três estávamos tendo várias batidas ainda que com um índice de aproveitamento apenas razoável no corrico (muito bom para quem estava começando). As colheres preferenciais eram as mais claras, mas não deixavam de entrar também nas "douradinhas" ! Foi uma manhã ótima para um "aquecimento", até porque no retorno para o REGIONAL, nos encontramos com a outra dupla que estava equivalente em termos de captura, mesmo com eles já sabendo os macetes desse tipo de pescaria e o comportamento dos tucunas ! Durante o almoço decidimos que iríamos (os cinco) pescando pelas margens do rio, enquanto que o REGIONAL subiria até um ponto especificado junto aos piloteiros ! Tivemos que - impacientemente - esperar pelas 15:00 h para voltarmos à água, pois antes disso o sol não estava dando qualquer chance ! Mas até às 15:00 h, deu para descontrair, tomar "umas", revisar o equipamento, trocar umas idéias, comer algo, enfim, aproveitar o momento onde a adrenalina inicial já havia sido descarregada, e passar a curtir o esquema montado ! Afinal era o primeiro dia (quinta) e só voltaríamos no domingo de manhã ! Iria dar tempo para chegar nos grandes ! Saímos como combinado, sendo que no início os botes ainda foram próximos um do outro (visíveis é o melhor termo), mas logo cada qual tomou sua rota ! Existiam diversos "braços de rio" a serem explorados, e a cada novo acesso a magia da região se descortinava com áreas e estruturas aquáticas propícias ao aparecimento dos peixes, quer com pontas de tocos aparentes (o nível de água do rio estava mais baixo - pudemos ver nas margens sua altura normal - cerca de 1,50 m) quer em galhadas submersas, ou mesmo nos capins que invadiam as margens (barrancas). De vez em quando as batidas aconteciam, e os embarques ficaram cada vez mais frequentes, sinal que estávamos nos aprimorando ! O peixe foi encontrado em quantidade menor que os pegos nas lagoas pela manhã (talvez um pouco maiores), mas o cenário em que nos encontrávamos compensava a diferença ! Terminamos encontrando o REGIONAL por volta das 17:30 h no ponto acertado (em frente da entrada de uma imensa lagoa, cujo acesso já começava a ficar difícil pelo nível em que se encontrava a água). A "meta" a ser perseguida no próximo dia seria seria aquela lagoa, mas quem disse que esperamos pelo dia seguinte ? Pelo restinho do dia que ainda nos faltava, fomos dar uma explorada inicial no local ! Na chegada e no horário em que estávamos não demorou para o molinete "cantar" ! Não foram poucas as batidas experimentadas, e chegamos a embarcar uma boa meia dúzia de exemplares (tamanhos bem razoáveis - nenhum contudo acima de 1 1/2 quilos). Afinal escureceu e tivemos que nos render aos "apelos" - quase "súplicas" - do piloteiro e voltar para o REGIONAL, onde já encontramos os dois companheiros no preparo de um churrasquinho de carne que estava com um cheiro convidativo... Também eles não tiveram a sorte de encontrar um cardume de tucunas, embarcando apenas alguns exemplares (em menor número que nós três), sendo um deles com uns dois quilos (todos entretanto amarelo-esverdeados com guelras/nadadeiras avermelhadas) ! O jantar foi em clima de festa com aquele churrasquinho regado a cerveja e as muitas lembranças de embarques ou batidas perdidas, com o astral nas alturas (de todos - sem exceção). Os planos para o dia seguinte eram "vigorosos", onde a promessa de muitos peixes era quase que uma unanimidade de opinião entre os pescadores e piloteiros ! Pouco a pouco, cada um foi buscando seu espaço de descanso, seu melhor posicionamento nas respectivas redes, e um direcionamento do vento (estávamos parados no meio do rio de forma proposital para evitar os eventuais mosquitos) para a certeza de uma boa noite de sono revigorante ! Pode não parecer, mas ficar sem encostar as costas dentro de um bote, ainda que em movimento, e sob aquele sol, é algo muito cansativo, de forma que o sono chegou relativamente cedo para todos (ainda mais embalados por "umas cervejinhas") ! A manhã do dia seguinte foi quase uma cópia carbone do dia anterior ! Cecil dando a maior pressa aos piloteiros para sairmos ! Conseguimos sair do REGIONAL e entrar no lago mais cedo, mas peixe mesmo, só após às 08:30 h ! De qualquer modo pudemos ter uma visão inicial do que nos esperava para o resto do dia ! O potencial animou a todos nós ! Encontramos regiões fantásticas, onde nos parecia IMPOSSÍVEL não aparecer peixes ! Não foram poucas essas áreas, mas tudo indicava que estava faltando alguma coisa para a tão pouca incidência de batidas ! Não conseguimos descobrir a causa - até o final da pescaria - dessa nossa frustração. Mas é importante que se diga que havia peixe, e que se as batidas não eram tão frequentes, nem por isso desapareceram ! Chegamos a pegar peixes de 2 quilos nesse dia ! O almoço foi mais uma vez a bordo do REGIONAL (que estava ancorado a no máximo 30 minutos de distância de onde estávamos), e a não ser pela fome que estávamos, não me lembro de nenhum "destaque" feito por esse "dito cozinheiro" da tripulação ! Mas a comida dava para "enganar", sempre acompanhada por generosos "sandubas" que preparávamos com os frios que levamos e que estavam mantidos dentro dos isopores com gelo. Durante a tarde, a mesma rotina de corricar e embarcar os "bichinhos" ! Mas duvido que alguém tenha ficado cansado "dessa rotina". Começamos a "marcar os pontos" em que havíamos perdido algumas batidas, e com isso melhoramos bastante a nossa produtividade ! No entardecer, como sempre, o "couro comeu" ! Encontramos o primeiro cardume (infelizmente não eram muito grandes - em torno de 1 quilo), que nos provocou um enorme "puxa puxa" ! As colheres mal entravam na água e já vinha a batida ! Foi uma verdadeira festa, e mesmo tendo sido rápida, nos permitiu pegar (os três juntos) de 12 à 15 peixes ! Um dos motivos - pelas conversas noturnas que tivemos - foi a existência de duas "saídas" de córregos que faziam uma pequena "foz de rio" naquele local ! Apurando - ainda na mesma noite com os piloteiros - soubemos da possibilidade - a depender da altura da água - de navegarmos nessas "entradas", chegando inclusive, se tivéssemos "sorte", alcançar até um outro lago mais distante ! Era TUDO que queríamos ouvir naquela nossa penúltima noite na região ! Para não perder a sequência, mais uma vez confrontamos os resultados dos dois botes, não deu para eles (e assim foi até o final - para não ficar me repetindo). Mas eles também pegaram bastante peixe ! E foi dentro desse clima que Fernando, um nissei de SP, perguntou-nos se gostaríamos de provar um peixinho assado, pois ele sabia de umas duas receitas ótimas ! Foi o mesmo que perguntar "se macaco quer banana" ! Rapidamente a churrasqueira foi "reanimada" (as brasas não apagavam nunca) e observamos seu trabalho rápido e eficiente na limpeza do peixe, do tempero usado, e finalmente na técnica de envolvimento dos peixes em papel laminado ! Ele havia trazido alguns condimentos de Belém, de modo que na verdade não se tratava de uma experiência, e sim a repetição de algo especial que ele era acostumado a fazer ! Mas isso em nada diminui seu mérito ! Os peixes assaram (ou cozinharam?) em menos de 20 minutos, e ficaram simplesmente indescritivelmente saborosos ! Um deles foi feito com coentro, temperos comuns e azeite doce (que me animei em aprender a receita), enquanto que o outro levou cogumelos e molho soyo (soja). Estava difícil qual deles ficou melhor ! Independentemente do sabor dos temperos, havia o fato dos peixes estarem "quase vivos" de frescos, e isso certamente deve ter ajudado a atingir aquele fantástico sabor ! De quebra, uma aula de como FILETAR o peixe e tirar suas principais espinhas, de modo a não atrapalhar a degustação ! Esse Fernando estava "perdendo tempo" na área financeira do Hilton... Dessa forma é que fomos adormecer, "brindados" com um início de lua crescente no céu ! A rotina matinal (mais uma vez) não se alterou, e após superados os obstáculos tradicionais, estávamos nas águas do lago (não consegui lembrar do seu nome) em busca de emoções - as últimas daquela região ! Fomos diretos nos pontos considerados como "quentes" do dia anterior, e começamos a embarcar nossas "lembranças" ! Não sei se estávamos melhorando mesmo, ou se a sorte nos favorecia, mas o fato é que paramos de "perder" peixe ! O que entrasse era embarcado ! E foi nesse ritmo que chegamos a tal "foz" ! Tivemos alguma dificuldade para encontrar a entrada de um dos córregos (a outra entrada estava totalmente coberta de vegetação), mas nossa persistência nos rendeu lembranças extraordinárias ! Desde o início notamos algo diferente, pois a água da região era clara, mas não translúcida, cristalina, como a que passamos a observar naquele "riacho" (logo corrigido pelo piloteiro para "igarapé"). Quanto mais andávamos na direção da "nascente" do "igarapé", mais transparente ficava a água, ao ponto de começarmos a observar seu leito de areia e vegetação, onde incontáveis peixes passavam em velocidade (talvez assustados por um barulho de motor nunca antes ouvido). Nossas colheres vinham sendo arrastadas quase a flor d'água, o que certamente não era a melhor profundidade para encontrar os peixes, mas mesmo assim eles não deixavam de entrar ! Talvez um pequeníssimo percentual do que víamos passando por baixo do bote (de todos os tamanhos), mas o fato é que as iscas pareciam irresistíveis a alguns deles ! Continuamos nossa aventura por quase 30 minutos, até que de repente entramos numa outra lagoa, muito menor do que onde o REGIONAL estava ancorado, mas grande o suficiente para termos dificuldade em ver a outra margem ! A diferença dessa é que ela era de águas transparentes ! Que coisa fantástica ! Apesar dessa beleza, só pegamos uns poucos exemplares (nenhum deles expressivo), de modo que resolvemos voltar para "nosso igarapé" ! O horário do almoço foi desprezado (última tarde) e comemos os sanduíches trazidos (saímos prevenidos de que isso poderia acontecer - estávamos até torcendo para tanto) sem sequer desembarcar (e as "costas" já começavam a reclamar !). Na volta pelo "igarapé", a ação retornou, e pegamos seguidamente uns 5 ou 6 tucunas de uns 2 quilos cada ! Em certo momento uma de nossas colheres prendeu numa "tranqueira" (naquela água a visibilidade permitia-nos inclusive retirá-la quando se prendiam), e aproveitamos todos para um inesquecível banho de rio ! A água estava fresquinha e deliciosa de nadar, de modo que aproveitamos para passar uns 10 minutos nisso... Mas era preciso ir adiante, afinal os tucunas estavam à espera ! Passamos pela foz, e resolvemos fazer uma tentativa numa margem cheia de árvores semi-submersas, onde já havíamos perdido umas duas batidas boas anteriormente ! Já havíamos pego uns dois tucunas médios, quando o molinete de Cecil cantou, e a ferrada desde logo mostrou que estávamos diante de um troféu ! O sintoma mais determinante é que o peixe não pulou hora nenhuma, e quando chegou próximo do barco é que de fato pudemos ver se tratar de um belo tucuna de 3 1/2 quilos (talvez atingisse os 4 quilos). Muita gritaria e nervosismo até que o bruto estivesse embarcado ! Uma vez dentro do boite, todos respiramos satisfeitos já que um exemplar daquele porte não era comum de per pego por alguém - como nós - ainda iniciantes nessa "arte" de pesca com artificiais ! O bicho tinha uma cabeça enorme, e era - diferentemente dos demais pegos - totalmente amarelo (Cecil logo o apelidou de "amarelão") com poucas variações de tons vermelhos no corpo ! Um espécime diferente de tudo que conhecíamos ! Nessa altura, nosso principal adversário era o tempo ! Voltamos a passar por aquele local atrás de outro troféu parecido, mas o máximo de emoção que tivemos foi o aparecimento de uma enorme cabeça de jacaré a poucos metros do bote (uns 2 metros no máximo). Pensávamos que era "algum esqueleto" cuja cabeça estava "boiando", mas logo mudamos de opinião quando o resto do corpo (bem grande) apareceu boiando e o "bicho" se afastou nadando tranquilamente (suponho - hoje - que ele estivesse atrás de comida, e que o barulho do tucuna fisgado o tenha atraído !). Foi uma sensação diferente, mas não creio que tenha sido de medo, e sim de surpresa, encontrar um jacaré grande tão próximo assim ! Mas o sol já se dirigia para o poente, e pela experiência obtida, a hora seria aquela ! Não havia porque não aproveitá-la ! Voltamos para a foz do "igarapé", onde havíamos tido sorte na véspera, mas dessa feita entraram uns 2 ou 3 apenas, e todos pequenos ! Como é que poderia haver tanta diferença assim de um dia para outro ? Tentamos iscas (e cores) diferentes, mas nada que produzisse o efeito desejado ! Decidimos então entrar no "igarapé" outra vez ! Foi a decisão mais acertada que tivemos ! A distribuição das iscas remanescentes (perdemos várias ao longo do dia) fez com que a única RAPALA ficasse com Armando, e foi nessa isca, naquela hora, naquele local que os tucunas estavam interessados ! É claro que também atacavam as colheres, mas não dava para Armando jogar a linha na água e a isca se afastar mais que 5 metros do barco para que ele já estivesse com peixe engatado ! Tenho a impressão que embarcou uns 15 peixes (de vários tamanhos) em menos de 15 minutos ! Para se ter uma ideia, passava-se mais tempo tirando as garateias das guelras/boca do peixe do que puxando a isca ! Uma verdadeira "nojeira" ! Numa dessas fisgadas é que até um enorme acabou entrando ! Foram tantos e em tão pouco tempo, que fica difícil lembrar das circunstâncias específicas da captura ! De qualquer modo, foi peixe para "uns 4 quilos", e pegos numa "rapalinha" pequena ! Só não foi embora porque a distância da ferrada para o bote foi pequena, e o piloteiro embarcou rápido, mas isso não diminui o mérito da captura ! Acredito que até o sol se por, tenhamos pego mais de 30 peixes naquele local, e tudo assim, rapidinho, rapidinho ! Foi um senhor fechamento de dia ! Apesar de ainda claro (mas sem sol), tivemos que parar de pescar para voltar ao REGIONAL, não sem antes ouvir inúmeros protestos ! Para facilitar (?), Armando havia perdido a "rapalinha", de modo que ficou menos difícil a decisão de pararmos de pescar (como se houvesse outra alternativa) ! Nesse nosso retorno é que quase tivemos um "belo acidente" ! A claridade estava quase que terminando, e para aproveitar esse restinho de luz antes de ficar "breu", vínhamos voltando com o "motor aberto", e o bote dando tudo que era possível (com aquele peso - acrescido com o sem número de peixes embarcados - estávamos com o fundo do bote repleto de peixes), quando de repente, sem qualquer aviso (não deu tempo), o piloteiro faz uma curva de quase 90º, fazendo com que perdêssemos o equilíbrio e por muito pouco não caíssemos no rio ! Entrou água no bote, foi um sufoco e o susto foi bem grande,mas jamais poderíamos imaginar a razão de uma manobra tão radical como aquela ! O piloteiro, com os olhos acostumados e atentos, deslumbrou (quase em cima do bote) uma manada de búfalos atravessando o braço do rio onde estávamos passando e naquela claridade, com a cor da pele dos animais estar se misturando com a pouca luminosidade existente, teria sido um verdadeiro estrago ! Felizmente ele estava atento e desviou (bem verdade que em cima - talvez não mais que uns 3 metros de distância - dos "obstáculos") antes que alguma coisa tivesse acontecido ! Chegamos um pouco assustados, mas no íntimo, eufóricos com o resultado do dia ! Independente dos troféus de Cecil e Armando, o deste último - Armando - seguramente o maior da pescaria (Franklin pegou um grande, mas nem tanto...), havíamos feito um volume muito grande de capturas, de modo que foi uma festa ! O jantar daquele noite foi "sufocado" pelas inúmeras lembranças e situações experimentadas ao longo do dia, com muita risada e uma alegria contagiante ! E o estoque de cerveja baixou bastante, pois para dar vencimento ao churrasquinho de despedida, só mesmo com cerveja, e haja cerveja ! O combinado era que desceríamos para a foz do Curuá-Una durante a noite, para numa "fominhagem final" nos despedirmos da pescaria nos lagos por onde havíamos começado. Em virtude disso já amanhecemos no preparo dos equipamentos para aquele último pedaço da manhã (já que teríamos que voltar para pegar o avião em Santarém). De qualquer jeito, era programa, e era atrás disso o motivo de estramos ali ! Fomos corricando e quando os peixes começaram a bater (pequenos), aconteceu um imprevisto que me deu muito trabalho posteriormente ! Não se sabe bem a origem e/ou o porque, mas de repente, o equipamento de um dos irmãos (emprestado por Bill) caiu na água ! Tenho a impressão que foi o de Cecil ! Apesar de quase que imediatamente termos cortado o motor de popa, e retornado ao "local", nada conseguimos "pescar" com as demais varas com que tentávamos enroscar na linha no fundo do lago ! Quando estávamos "desistindo", descobrimos que o lago era raso - pelo menos naquele local onde estávamos - decidimos entrar na água e com os pés tentar encontrar a linha ! Programa de Índio (PI), mas como se tratava de um material emprestado, não tivemos outra alternativa ! Ficamos uma boa "meia-hora" arrastando os pés descalços naquela "lama de fundo de lago", até que o material foi finalmente encontrado ! Uma coisa "aparentemente simples", deu muito mais trabalho para ser concluído ! Nessa altura, o melhor a fazer era retornar para evitar "outras surpresas", até porque pelo horário e pelo sol, POUCO haveria de dar em termos de peixe ! No REGIONAL, já com Franklin e Fernando (que não saíram), reiniciamos nossa viagem de volta, que desta feita seria contra a correnteza do rio, levando mais tempo portanto ! Aproveitamos esse tempo (mais de 5 horas) para limpar, desmontar e guardar os equipamentos e tudo aquilo que trouxemos (e que voltaria conosco). Fomos ver os peixes, tirar fotos, enfim, praticamente nos despedir daqueles dias maravilhosos ! Ficamos apreciando as margens ribeirinhas do rio Amazonas (na ida havíamos passado no escuro) enquanto nosso REGIONAL seguia singrando as águas barrentas do rio. A repetição das paisagens se tornou um lugar comum, com muito pouca movimentação humana nas margens ! Aliás a grandiosidade das áreas verdes na Amazônia geralmente é monótona, pois é uma repetição sequenciada das mesmas vegetações, etc... Os animais e/ou aves chegam a ser raros (pelo menos de serem vistos) nas margens do rio. A chegada à Santarém foi tradicionalmente bonita, com um sol poente muito forte. Nossa condução já estava a espera pois estávamos dentro do horário previsto ! Na verdade eram dois voos distintos, pois Cecil estava indo para Manaus (sua esposa estava a bordo desse voo), de onde voltaria para Salvador, enquanto que os demais voltariam para Belém. Os voos coincidentemente eram em horários bem próximos de modo que terminou não havendo uma espera maior e pudemos "desfrutar" do bar do aeroporto (a última cerveja) ! O embarque da tralha ficou a cargo de Franklin, que possuía "uns esquemas" em função do hotel, e pela quantidade de peso nos isopores, somente com um esquema desses para não pagarmos excesso ! Fichas de embarque nas mãos, despedidas feitas (com os devidos agradecimentos a todos os envolvidos), recomendações quanto a guarda de parte do material que "sobrou" para uso futuro (nisso incluso a CHURRASQUEIRA), pudemos finalmente acreditar que estávamos concluindo mais essa pescaria (nossa segunda) ! Nesses momentos estava com um início de "dor-de-cabeça" que foi atribuído a quantidade de sol, além dos possíveis "excessos" de comida e bebida do fim de semana ! Bem que achei que poderia ser isso, e não dei maior importância ao assunto (apesar da "dor-de-cabeça" persistir). O voo para Belém foi tranquilo e encontramos "seu Zé" a nossa espera no aeroporto ! Também presente a "kombi do Hilton", que carregou todos os isopores para o hotel, onde existia espaço para o devido armazenamento, afinal era muito peixe para ser guardado no pequeno freezer de casa. Armando ficou com os dele, pois estaria embarcando na manhã seguinte, e não haveria tempo suficiente para levar e pegar no hotel, sendo necessário apenas colocar gelo nas embalagens ! Nos despedimos de Franklin e Fernando no próprio aeroporto e fomos para casa, afinal já era hora de jantar ! Em vez de melhorar, comecei a me sentir pior, e junto com a "dor-de-cabeça", apareceram também umas dores no corpo, além de um "calor" que me pareceu anormal, mas ainda por conta da "insolação" achei que uma noite de sono bem dormida no ar condicionado, e em cima de uma cama, me colocariam em condições de trabalho no dia seguinte ! O cansaço foi tanto que nem quis jantar, preferindo um bom banho e um descanso. Tenho a impressão de que nem me despedi direito do Armando, caindo num sono profundo. Soube, dois dias depois, que Armando havia embarcado sem problemas na segunda feira pela manhã, levado pelo motorista ("seu Zé"), enquanto que eu amanhecera com um febrão de 40º. Me lembro vagamente de minha esposa aflita atrás de um médico e a presença de Marcos Fonseca no cenário, além de - é claro - muita dor numa de minhas pernas (acho que na direita). Passei a segunda feira toda adormecido e apenas na terça feira é que o diagnóstico prevaleceu, ou seja, estava com "IRISIPELA" na perna ! Já convenientemente medicado, era só uma questão de tempo para minha recuperação, pois até injeção de "benzetacil" tomei para acelerar meu tratamento. Felizmente fui tratado por um especialista em "doenças tropicais" (Dr Belezzi) que terminou se tornando um amigo da família ! Chegamos a ele por intermédio do Franklin. Tudo leva a crer que aquela "andada" com o pé descalço na lama do fundo do lago tenha sido o causador do problema... alguma feridinha no pé existente dando acesso, foi o suficiente para o fato se consumar... (não desejo nem aos inimigos). Nesse meio tempo, quando fui atrás da minha parte do peixe que havia ficado nas geladeiras do hotel, para ir aproveitando para em casa ir comendo ao poucos (fiquei fã do sabor do tucuna), tive a notícia que o Gerente Geral (Franklin) havia dado permissão para utilizar o produto no serviço da casa, pois o estoque deles havia terminado. Na situação em que estava, não dava para brigar com Franklin, mas mesmo assim fui lhe perguntar o porque dele ter dado aquela autorização, e sua resposta - numa risada - é que pegaríamos outros no lugar...
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