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Vazzoleris do Nhamundá - 28/10 a 04/11/2023
Labareda postou um tópico em Relatos de pescaria (água doce)
A pescaria desse ano foi diferente pra mim. Acostumado a ir sempre com a mesma turma-base desde 2007 nas aventuras pelo Araguaia, dessa vez fui como convidado em outra turma para conhecer um local que ainda não conhecia. Desde 2018, quando debutei em pescarias na Amazônia, fiz um compromisso pessoal de voltar ano sim, ano não a Barcelos atrás dos belíssimos açus. Por motivos familiares e financeiros, ficaria difícil ir todo ano. Acontece que o convite feito pelo Tarcísio para ir com a turma dele pescar no rio Nhamundá me fez abrir uma exceção. A vontade de explorar um novo local com uma espécie de tucunaré muito restrito e desconhecido por mim, somada a expectativa de conhecer novos companheiros de pesca pesaram na minha decisão de voltar à Amazônia nesse ano que seria não. Após algumas pequenas alterações, a turma ficou fechada com 10 pescadores. De pé: Vinícius, Teodoro, Wilmar e eu; sentados: Sergio, Cardoso, Júlio, Osmar, Samuel e Tarcísio. Nos preparativos da pescaria, buscando informações sobre a região, logo verifiquei que a estrela da pescaria local é o Tucunaré Vazzoleri (Cichla Vazzoleri), uma espécie bastante restrita e encontrada em poucos rios da região. Os Açus (Cichla Temensis) não habitam as águas do Nhamundá. A decepção inicial em não ter a possibilidade de fisgar um belo Açu logo deu espaço à expectativa de conhecer essa espécie espetacular e nova para mim. Buscando na internet, logo achei aqui no fórum informações que me animaram bastante de operações do @Marcel Werner do Vazzoleri Camp no rio Paratucu, afluente do Nhamundá. Passagens compradas e pescaria marcada (27/10 a 06/11/2023), a expectativa foi nas alturas enquanto não chegava o dia de embarcar. Poucas semanas antes, acompanhei diariamente as sucessivas vazantes do Amazonas e as notícias apocalípticas da seca histórica. Não teríamos as dificuldades de translado que muitos enfrentaram a partir de Manaus para os destinos finais. Nossa partida seria de Santarém-PA sem a necessidade de translados regionais. Mas as condições de pesca eram uma incógnita. A nossa aventura, muito bem organizada pelo presidente Serginho e operada pela Sra. Fátima à bordo do Cap. Donga, partiu navegando rio acima no Amazonas até a barra do Nhamundá, que faz a divisa dos estados do Amazonas e Pará. Foram mais 20h de navegação regada a muita cerveja... e vinho! Aliás, eita turma que gosta de um vinho! Nunca tinha visto tanto vinho em uma pescaria. E não tinha hora nem calor que desanimassem esses bebedores. Foi comum ver os colegas na canoa debaixo do sol de 40°C com uma taça na mão. Reverências especiais ao Samuel nesse ponto. Ao amanhecer do primeiro dia embarcado estávamos aportados em uma praia não muito acima de Faro-PA. Devido à seca histórica dessa temporada 23/24, não foi possível chegar nem à barra do rio Paratucu. Nesse afluente a navegação estava impraticável. Lá se foi meu plano de explorar esse rio com seus belos exemplares. Logo chegou a cavalaria para iniciar os trabalhos. Os guias e respectivos botes que estavam nos aguardando nas comunidades ribeirinhas vieram descendo o rio para nos resgatar. Aqueles pontinhos no meio da paisagem tomada pela fumaça das queimadas eram os botes de pesca chegando. Apesar de muito largo, o rio estava extremamente raso nesse trecho. Difícil até para os botes! No primeiro dia de pescaria saímos logo cedo para tentar chegar aos pontos de pesca. Navegamos quase duas horas até começar os trabalhos. Foi um dia difícil e com pouca ação pegamos apenas alguns pequenos tucunas e umas traíras. Tivemos que encerrar às 16h para pegar o longo caminho de volta antes de escurecer. Chegando na base, trocamos ideia com a turma toda a fim de encontrar uma alternativa mais promissora que a do primeiro dia. A derrota foi geral. Lagos rasos e com água extremamente quente não nos davam sinais de vida e a perspectiva de encontrar bons peixes era pequena. A informação comum dos guias era que para acharmos os peixes teríamos que subir ainda mais, pois na região em que pescamos no primeiro dia existia uma grande pressão de pesca exercida pelos próprios nativos com suas atividades. Somente acima da comunidade do Português (ponto mais alto que exploramos no primeiro dia) o peixe iria começar a aparecer. No segundo dia, saímos ainda mais cedo. Dessa vez a navegação durou quase 3h até começarmos a pescaria. Começaram a sair os primeiros peixes razoáveis e melhorou a produtividade. Mas nada próximo da nossa expectativa. Queríamos mais. Aquele sistema de navegar 3h rio acima e 3h rio abaixo limitava o nossa janela de pescaria das 9h às 15:30. Chegando no barco hotel à noite, todos compartilhavam do mesmo sentimento: precisávamos de uma alternativa diferente para achar o peixe! Até então só havia saído um tucunaré acima de 60cm. Fisgado pelo amigo Wilmar, o Vazzoleri tinha 62cm. Os demais raramente passavam dos 55cm. Esperamos a última dupla que havia saído depois do almoço em expedição numa lancha mais potente para explorar pontos mais acima. Já no alto Nhamundá. Finalmente notícias boas! Serginho e Tarcísio tinham fisgado alguns bons exemplares apesar do pouco tempo que se dedicaram aos pinchos. Teve Vazzoleri de 66cm e até duble de peixes acima de 60cm. Em rápida deliberação e adesão unânime, decidimos subir no dia seguinte com alguma estrutura no bote de apoio para pernoitarmos na região em que os nossos amigos exploradores avistaram os brutos. Foi difícil pegar no sono até a próxima alvorada chegar. A esperança estava renovada! Fiquei imaginando fisgar um belo exemplar de Vazzoleri, assim como os que havia visto poucos dias antes nos episódios do Fernando Fisher no youtube. Ele acabara de retornar da mesma região que estávamos indo e havia pegado bons exemplares. De pé antes do sol e café da manhã tomado, partimos para a nossa aventura. Dessa vez, 5h de navegação. No caminho passamos por alguns lagos que eu havia identificado nos vídeos do Youtube e até pela operação do Amazon Spirit. A cada ponto promissor eu queria jogar a isca, mas o Tarcísio e o guia Coiote seguraram minha ansiedade: “Calma, nós vamos pescar lá pra cima. Se pararmos pelo caminho, vamos chegar muito tarde.” No caminho já tinha feito de tudo para adiantar o serviço: passado o protetor solar, selecionado as iscas do dia, retirado a proteção das carretilhas, revisado e refeito os nós dos líderes... e o ponto de pesca não chegava. Já próximo de 10:30 da manhã, com uma High Roller 5.25’ branca de cabeça amarela engatada no snap, 10cm de linha na ponta da vara e carretilha destravada com o dedo no carretel, finalmente ouvi aquilo que esperava desde cedo: “A pescaria é daqui pra cima. Vamos começar a bater naquela boca de lago.” Chegamos com calma e começamos a bater isca de um lado do barranco. Logo o Tarcísio falou que no barranco oposto tinha saído o melhor peixe fisgado no dia anterior de expedição. Fizemos, então, a volta a remo por dentro do lago para não matar o ponto. Quando vínhamos saindo, ainda de dentro do lago, explorando as beiradas com estruturas submersas, olhei para o meio do rio e reparei um drop se estendendo da ponta do barranco de entrada para o meio do rio. Não tive dúvidas: virei de costas para o barranco que estávamos explorando e lancei pro meio atravessando o drop. Sucesso!!! Não precisou de um segundo lance. Quando a hélice rasgou a água acima do veio mais escuro, próximo do fundo de areia visível, a explosão típica dos tucunarés amazônicos finalmente apareceu! A pancada certeira deu início ao cabo de guerra com o peixe. Briga inesquecível no visual. O peixão correu pela parte rasa da ponta submersa e ainda tentou se abrigar nas estruturas que estávamos explorando anteriormente. Mesmo com a embreagem ainda fechada, tive que ajudar com o dedo para evitar o enrosco. Guenta, equipamento! Após umas 3 investidas, o barco já estava devidamente afastado da margem e o bicho brigou mais um pouco no limpo antes de se entregar. Depois de quase 5 horas de impaciência na navegação e pouco mais de 10 minutos pescando, eu estava embarcando o que seria o meu maior Vazzoleri: 77cm, 16lb. O maior da semana! Medido na trena estava quase batendo 78cm. Mas como estávamos sem a régua adequada, demos um desconto e assumimos que o bicho tinha 77cm. Mais tarde tirei a prova medindo outros peixes na régua da IGFA e na mesma trena. Sempre dava uma medida bem próxima com um erro não superior a 0,5cm. Com a pescaria paga, eu aproveitei para extrapolar um pouco na comemoração tomando umas geladas. Ainda deu tempo de pegar mais alguns bons exemplares antes do almoço. Teve até um double com o Tarcísio e muita diversão num lago infestado de trairas de bom porte. Aproveitamos para garantir as iscas pros peixes de couro no fim de tarde. Cheguei no acampamento ainda comemorando a captura inesquecível. Aproveitei e tomei mais umas enquanto o assado não ficava pronto. Quase passei do ponto nessa hora. Se não fosse o amigo Wilmar perceber meu estado etílico e servir o meu prato, eu iria perder as atividades da tarde curando o pileque. Kkkk. Valeu, Wilmar! O Wilmar, aliás, teve um episódio curioso. Os tucunarés atacaram a isca dele com tamanha voracidade que arrancaram o pitão inteiriço. Olha o estado da isca, coitada. Os bichos não estavam para brincadeira! Passada a primeira noite no acampamento, a maioria decidiu pernoitar novamente no local no dia seguinte, tamanha a diferença de produtividade. Havíamos achado, enfim, o que viemos buscar: ataques insanos, brigas alucinantes e muitas histórias para contar. Somente o Cardoso e Samuel optaram pelo conforto do barco hotel e retornaram na tarde do segundo dia. Dessa vez acabamos fazendo, mesmo que de forma improvisada, uma aventura já ventilada em outras viagens: o acampamento avançado buscando explorar ao máximo as possibilidades da região. O conforto não foi exatamente o ponto forte. Mas certamente foram as duas melhores noites da semana. Nos outros turnos de pesca, ainda fui abençoado com outros exemplares em torno de 70cm. Fazendo um comparativo, fiquei com a impressão de que o tamanho equivalente do Vazzoleri em relação ao Temensis é de 10cm a menos. Ou seja, do ponto de vista de raridade, porte e talvez até de força(!), o Vazzoleri 70up equivale a um açu 80up. Do ponto de vista de beleza e voracidade, as duas espécies se equivalem. Que peixe bonito, esse vazzoleri! Os fins de tarde ainda reservaram alguns bons exemplares de pirara. A maior, fisgada pelo Serginho na “porta” do acampamento mediu mais de 1,20m. Algumas fotos das capturas nos 3 dias e 2 noite que ficamos acampados: Apesar do nível de dificuldade enfrentado, com muitos fatores impostos pela seca extrema da temporada, conseguimos capturar belos exemplares de Vazzoleri. Do ponto de vista de quantidade de peixe, esta foi certamente a minha pescaria de menor produtividade na Amazônia. Mesmo assim, foi muito gratificante conhecer esse belo rio, essa surpreendente espécie de Tucunaré e essa turma espetacular que teve um entrosamento instantâneo. Como não podia deixar de ser, passamos dias muito agradáveis na companhia de parceiros exemplares. Teve muita diversão, bebedeira, tiração de sarro e ao mesmo tempo respeito e zelo entre os pescadores. Em quase 10 dias de convivência não houve nenhum desentendimento. Cativamos novas amizades e construímos ótimas lembranças que farão parte da nossa história. Teve até a fundação de um novo negócio a partir de um baldinho de carvão! Vamos manter isso aí, Osmar! Kkkk Obrigado amigos! Até a próxima!