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Ela na Pesca


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Pensando em aproveitar uns dias de folga, eu e minha namorada Larissa, decidimos fazer uma viagem para dar uma descansada e aproveitar a oportunidade para uma pescaria de 3 dias. Primeiro eu precisaria decidir qual seria o destino. A opção mais próxima à Brasília seria o Lago de Serra da Mesa. Infelizmente, os anos de matança de tucunarés, permitida por todas as pousadas da região fizeram com que os estoques pesqueiros diminuíssem absurdamente assim como as mudanças constantes do nível das águas. Primeira opção descartada já que as chances dela se divertir com os bocudos azuis seriam mínimas. A segunda opção, Lago do Peixe, no estado do Tocantins também foi descartada já que nos meses entre junho e agosto, a força dos ventos é intensa atrapalhando bastante a navegação e deixando os peixes menos ativos. Foi então que me lembrei do Rio Cristalino, afluente do Rio Araguaia, sendo este último responsável pela divisão dos estados de Goiás e Mato Grosso.

O Rio Cristalino está situado do lado do Mato Grosso. É relativamente estreito, com inúmeras lagoas e por isso, protegido do vento, e ainda por cima com várias espécies de peixes esportivos como muitos tucunarés azuis, aruanãs, pirarucus, pirararas etc. Com o destino escolhido, precisava agora escolher o material com o qual ela pescaria assim como ensiná-la a manusear uma carretilha, arremessar e ainda por cima como dar vida a uma isca artificial.

Passei alguns dias ensinando-a até o dia “D”. Na tralha, materiais e equipamentos variados para todos os tipos de pescaria. Percorremos cerca de 640 km de Brasília até um certo ponto do Araguaia e depois mais 1 hora 30 de barco rio abaixo até a pousada bem próxima ao Cristalino. Chegamos por volta das 21 hrs. Após o jantar, fui refazer os nós de líder da pescaria de praticamente 1 ano antes. Ansiedade à tona, mal consegui dormir, aguardando a hora da navegação e finalmente a pescaria. Mal o dia clareava, às 5 30 da manhã, já estávamos prontos.

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Eu não via a hora de ver a Larissa fazer seu primeiro arremesso no campo de batalha e pegar seu primeiro tucunaré com uma artificial. Havíamos definido que os dois primeiros dias seriam destinados aos tucunarés e pirarucus e o último dia aos peixes de couro, quando voltaríamos subindo o Araguaia pescando-os.

Ela começaria os trabalhos com uma isca de meia-água, o que exigia um pouco menos de coordenação com as mãos até estar realmente "aquecida" nos arremessos. O trabalho da isca com recolhimento lento, logo lhe rendeu uma piranha.

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Não era bem o que procurávamos mas o fato de ter pego um predador no pincho, já era um bom começo. Além disso, ver o sorriso estampado em seu rosto, não tinha preço. Com mais alguns arremessos, ela tinha na ponta de sua linha, seu primeiro tucunaré azul.

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Na mesma lagoa, saíram mais alguns tucunarés pitangas, mas as ações foram diminuindo durante o dia. Resolvemos mudar de estratégia e pescar no rio.

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Buscamos lugares onde havia mais vegetação nas margens e espraiados com muitos pontos de drop-off.

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Por mais que nos esforçássemos e arremessássemos sem parar, os tucunarés não apareciam. A água parecia estar com temperatura muito baixa, tornando os peixes inativos neste primeiro dia.

Fim de tarde deste primeiro dia, guardamos a talha leve e apoitamos dentro de uma pequena lagoa e começamos a investir nos pirarucus. A pescaria é bem interessante e exige bastante paciência, observação e uma certa precisão. De tempos em tempos, o peixe vem à superfície para respirar. É preciso saber em que direção a cabeça dele está e o arremesso deve ser feito bem à frente. Enquanto aguardávamos, para nossa surpresa, apareceu bem próximo a flor d'água, uma pequena pirarara. Foi só jogar o pedaço de peixe e nos preparar para a fisgada. Peixe devidamente fotografado e solto. Ficamos felizes com a captura e realmente foi o que salvou o primeiro dia de pesca.

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Assim que chegamos na pousada, conversei com o guia sobre o que faríamos no dia seguinte já que eu e a Larissa não havíamos capturado a quantidade de peixes que gostaríamos. Rogério sugeriu que navegássemos a uma lagoa ainda mais distante e que não havia acesso ao rio. Precisaríamos arrastar o barco por alguns metros mas o esforço valeria à pena.

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Por mais precisos que fossem os arremessos e por melhor que fossem trabalhadas as iscas de superfície, os bocudos insistiam em não atacar na superfície. Não houve outra forma a não ser trocar por iscas de meia água e trabalhá-las de forma bem lenta. Deu resultado. Vários azuis e pitangas embarcados.

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Após o almoço, voltamos para o rio e para os drop-offs. Felizmente conseguimos o que buscávamos. Muitas ações na superfície com direito a dublês de tucunarés e alguns aruanãs. Na maior parte do tempo, abandonava a pescaria e fazia papel de fotógrafo amador.

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No meio da tarde voltamos à mesma lagoa que nos rendera uma pirarara no dia anterior. Desta vez estávamos confiantes que pegaríamos o pirarucu que dançava em nossa frente, mas sem sugar os peixes que lançávamos para o seu banquete. Apoitamos novamente e esperamos. O motivo, desconheço. Mas ele costuma subir para respirar sempre na mesma área. Ele subiu a primeira vez e na segunda, arremessei a posta de traíra bem na sua boca. Em segundos, o peixe começa a tomar linha da carretilha destravada. Coração batendo a mil por hora, ainda devíamos esperar por mais alguns segundos para que ele engolisse a isca. De repente, ele pára de puxar. Será que havia regorjitado a refeição? Outro comportamento do pirarucu é simplesmente pegar a isca e parar de nadar, deixando os pescadores indecisos. Fisgar ou esperar? Esperei por mais um tempo, recolhi a folga da linha fora do carretel e fisguei. O pré histórico começou a tomar linha desenfreadamente. Subiu rente à vegetação dando várias cabeçadas. Era enorme. Afundou, tomou mais linha e de repente, a linha se rompe. Frustração por um lado mas por outro, motivo para retornarmos.

O dia ainda não havia acabado. Era hora das pirararas. Descemos o rio no sistema de rodada.

Paramos em 3 pontos. Os dois primeiros sem resultado. No terceiro, demos sorte. Na verdade, ela deu sorte. Em pouco tempo o poço rendeu 3 pirararas e todas "bateram" na vara dela. Ajudei-a a rebocar os peixes e tiramos todos fotos. A primeira, foi direto para as pauleiras.

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O terceiro dia que estava destinado exclusivamente aos peixes de couro no Araguaia, sofreu uma pequena alteração. Decidimos voltar ao Cristalino pela manhã atrás das piroscas. Infelizmente, sem sucesso. À tarde, para chegarmos ao ponto de partida, voltamos pescando, parando nos pontos de piraíba. Todos sabemos da sorte que se precisa e da dificuldade para capturar esta fera. Apesar de não termos tido êxito, nos despedimos do Araguaia com um belo por do sol e a certeza de que a Larissa havia sido fisgada pela pesca. Agora só nos resta programar a próxima.

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Marcio Boechat.

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