Carlos Vettorazzi Postado Junho 1, 2016 Denunciar Compartilhar Postado Junho 1, 2016 O texto que hoje apresento a vocês foi escrito há muito tempo, lá no começo dos anos de 1980. É uma crônica em homenagem a um grande pescador e caçador, já falecido, que me ensinou várias coisas na pesca, dentre elas a rodada com varejões de bambu. Seu nome era Eduardo, mas não sei por que motivo era chamado por todos de Léo. Teimoso, sarrista, músico, professor, mas acima de tudo: pescador! A pescaria relatada a seguir foi realizada no rio Jauru, afluente do Coxim, no Mato Grosso do Sul. À época, as pescarias eram fartas em grandes pacus, pintados e jaús. Boas lembranças! RODANDO NO JAURU Carlos A. Vettorazzi O bote descia lentamente o rio Jauru, controlado com maestria pelo remo de Léo Olitta, naquele tempo já com seus setenta e tantos anos. Tal era o silêncio estabelecido no barco, que podíamos ouvir os piados do jaó, lá nas encostas dos morros, bem distantes do rio. - “Eu sou...o jaó”, parecia querer ele dizer. As linhas eram mantidas a prumo, “caçando” o fundo do rio de vez em quando, para se ter noção da profundidade. No anzol, filézinho de curimbatá “azedo” (tirado na véspera e deixado ao relento). Sempre passando com o bote pelos pontos pegadores, coube ao Léo o primeiro peixe. Era um belo pacu e levara uma ferrada “de braço”, com o anzol cravando com perfeição em sua boca dura. Alguns minutos de luta e lá estava ele dentro do bote. Infelizmente, para ele, seria nosso jantar, no rancho. A rodada continuava e o dia já ia se aproximando de seu final. Casais de araras cruzavam o céu a caminho do pouso. Ave fiel. Dizem os entendidos que, uma vez estabelecido, o casal só se separa quando da morte de um deles. Coisa rara hoje em dia tamanha fidelidade... Do cerrado, partiam chamados frequentes de perdizes. A ornamentação das margens ficava por conta das árvores-de-pomba, em plena floração. Tanto eu quanto Antônio Fernando, filho do Léo, ainda não havíamos embarcado nosso peixe, embora ele já tivesse perdido uma fisgada. Provavelmente alguma piraputanga, ou douradinho, tentando roubar a isca. Deslizávamos em direção a uma corredeira, na cabeceira de uma pequena ilha de cascalhos, quando senti o peixe bater. -Peixe! Falei em voz baixa, com o ritmo cardíaco já alterado. O pacu abocanhou a isca com firmeza e tratou de nadar logo para próximo da margem, onde poderia digerir seu “jantar” em águas mais calmas. A linha seguia lenta e decididamente e eu acompanhava o movimento com a ponta da vara, na espera do momento mais adequado para a fisgada. Quando o ângulo formado entre a vara e a linha me pareceu o melhor, apliquei violenta ferrada, desencadeando uma das lutas mais emocionantes que até então tivera com os “parceiros de guelras”. A força de um pacu na água corrente é descomunal e a sensação que se tem é a de estar com um boi bravo na ponta da linha. O fato de rodarmos com varões de bambu, de quatro metros de comprimento, também colaborava para que tivéssemos que usar o “muque” para segurar o peixe. -Não tente embarcar já, aconselhava o Léo. Espere ele cansar mais. E lá ia o peixe. De lá pra cá e de cá pra lá, até pranchar ao lado do bote. Estava entregue...e eu ofegante, parte pela força que fizera, parte pela emoção da vitória. O “norueguês” havia cravado bem no canto da boca do peixe, no “canivete”. Sem chance. -Você fisgou bem, disse o Léo. “De braço” e na hora certa. Mas ferrou meio brando. Se fosse um dourado talvez você não tivesse embarcado. Deus do Céu, se aquela ferrada tinha sido branda, eu só imagino a força que ele devia por no braço para ferrar os seus peixes! O sol já ia baixo no horizonte. Fim de pescaria. A subida do rio, na volta ao rancho, foi alegre, mas o braço ainda estava “sentido” pelo trabalho com o peixe. Piracicaba, novembro de 1983 Anderson Luis Ribeiro Blas reagiu a isso 1 Citar Link para o comentário Compartilhar em outros sites More sharing options...
Fabrício Biguá Postado Junho 1, 2016 Denunciar Compartilhar Postado Junho 1, 2016 Olha o poeta aparecendo...Show demais... Citar Link para o comentário Compartilhar em outros sites More sharing options...
Anderson Luis Ribeiro Blas Postado Junho 1, 2016 Denunciar Compartilhar Postado Junho 1, 2016 Belo texto parabéns !! Citar Link para o comentário Compartilhar em outros sites More sharing options...
Kid M Postado Junho 1, 2016 Denunciar Compartilhar Postado Junho 1, 2016 Parabéns Carlos, Esses são os momentos que ficam registrados "para sempre", independente de "quanta água passe por baixo da ponte" ! Citar Link para o comentário Compartilhar em outros sites More sharing options...
Paulo R Marques Postado Junho 1, 2016 Denunciar Compartilhar Postado Junho 1, 2016 Belo texto, narrativa excelente, parabéns !! Citar Link para o comentário Compartilhar em outros sites More sharing options...
Marcel Werner Postado Junho 1, 2016 Denunciar Compartilhar Postado Junho 1, 2016 Show, Carlos! Isso que é escrever com maestria! Citar Link para o comentário Compartilhar em outros sites More sharing options...
Carlos Vettorazzi Postado Junho 3, 2016 Autor Denunciar Compartilhar Postado Junho 3, 2016 Em 31/05/2016 at 22:31, Fabrício Biguá disse: Olha o poeta aparecendo...Show demais... Menos Fabrício...menos...rsrsrs Valeu! Citar Link para o comentário Compartilhar em outros sites More sharing options...
Carlos Vettorazzi Postado Junho 3, 2016 Autor Denunciar Compartilhar Postado Junho 3, 2016 Em 01/06/2016 at 05:42, Anderson Luis Ribeiro Blas disse: Belo texto parabéns !! Obrigado Anderson! Citar Link para o comentário Compartilhar em outros sites More sharing options...
Carlos Vettorazzi Postado Junho 3, 2016 Autor Denunciar Compartilhar Postado Junho 3, 2016 Em 01/06/2016 at 08:07, Kid M disse: Parabéns Carlos, Esses são os momentos que ficam registrados "para sempre", independente de "quanta água passe por baixo da ponte" ! Muito obrigado Kid! E olha que já passou muita água por baixo dessa ponte...rsrsrs Abraço! Citar Link para o comentário Compartilhar em outros sites More sharing options...
Carlos Vettorazzi Postado Junho 3, 2016 Autor Denunciar Compartilhar Postado Junho 3, 2016 Em 01/06/2016 at 10:40, Paulo R Marques disse: Belo texto, narrativa excelente, parabéns !! Valeu Paulo! Abraço! Citar Link para o comentário Compartilhar em outros sites More sharing options...
Carlos Vettorazzi Postado Junho 3, 2016 Autor Denunciar Compartilhar Postado Junho 3, 2016 Em 01/06/2016 at 10:48, Marcel Werner disse: Show, Carlos! Isso que é escrever com maestria! Que bom que gostou Marcel. Fico contente. Abraço! Citar Link para o comentário Compartilhar em outros sites More sharing options...
Rodrigo Delage Postado Junho 10, 2016 Denunciar Compartilhar Postado Junho 10, 2016 Muito bacana, Carlos! Esses velhos tempos nos deixam saudades demais... Abraço! Citar Link para o comentário Compartilhar em outros sites More sharing options...
Carlos Vettorazzi Postado Junho 11, 2016 Autor Denunciar Compartilhar Postado Junho 11, 2016 Muita saudade mesmo Rodrigo... Abraço! Citar Link para o comentário Compartilhar em outros sites More sharing options...
Dair Helaehil Postado Setembro 26, 2016 Denunciar Compartilhar Postado Setembro 26, 2016 Que belo texto , Carlos. Abraço Citar Link para o comentário Compartilhar em outros sites More sharing options...
Guilherme Oliveira Barion Postado Setembro 27, 2016 Denunciar Compartilhar Postado Setembro 27, 2016 Relato bom é aquele que vc se imagina na história! Foi o que aconteceu! Show! Parabéns Carlos. Citar Link para o comentário Compartilhar em outros sites More sharing options...
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